Design de Mídias Participativas/Fundamentação Teórica/Cauda Longa
Até uns 200 anos atrás a falta de meios de comunicação limitava a troca cultural e propagação de idéias. O que determinava as culturas era unicamente a geografia, era o tempo das culturas locais, sotaques e folclores, transmitidos oralmente.
A indústria aglomerou pessoas de diferentes origens em centros urbanos, e não demoraram a surgir tecnologias de comunicação como a imprensa, o fonógrafo, o cinema e o rádio que geraram as primeiras onda de cultura de massa nas cidades. Na década de 1930 surgiram as primeiras redes de rádio nos EUA, transmitindo a mesma voz para todo um país, foi o surgimento da primeiras estrelas, reconhecidas e admiradas por milhões de ouvintes.
A partir do anos 1950, a popularidade da TV definia a tendência dominante, e por isso os preços por frações de minuto no horário nobre aumentavam sem limites. Com todo esse dinheiro entrando, a indústria do espetáculo se aprimorou rapidamente. Foram descobertas fórmulas incríveis para fazer dinheiro reproduzidas em série desde então na produção de discos, filmes, celebridades e etc…
Enquanto corremos para assistir o novo blockbuster, nos grudamos no sofá diante da sensação do horário nobre dessa semana, e as rádios repetem incansavelmente a mesma meia dúzia de músicas da parada, toda uma indústria trabalha em período integral na fabricação dos próximos produtos de massa que mobilizarão multidões.
Muito dinheiro é investido nessa indústria, e os investidores querem o máximo de retorno. Por isso, não basta ser um sucesso, tem que ser o megahit do ano. Se não for um estouro de bilheteria, é um fracasso total. O problema é que produzir um blockbuster não é exatamente o mesmo que produzir um bom filme. Para agradar ao máximo de pessoas é preciso descer o nível até um denominador comum. É claro que podem aparecer exceções, mas com tanto dinheiro em jogo, quem vai arriscar fazer diferente?
A distribuição desses produtos gera uma batalha desleal por espaço e atenção. A disputa acontece no escasso espaço de prateleira das lojas de disco e locadoras vídeo, nas breves 24 horas de programação dos rádios e TVs e em cada pequena sala cinema de cada cidade. Não há espaço para todos os produtos. Ficam, obviamente, os mais lucrativos. Aqueles que seguiram a risca todas as fórmulas de sucesso. Adeus pequenas pérolas do cinema e tesouros escondidos da arte, afinal business is business.
A tirania do lucro conquistou sua última fronteira, a cultura de povos inteiros. Nossas memórias, imaginações e inconscientes foram colonizados. Tudo o que vemos, e nosso próprio ponto de vista não passam de um sub-produto da indústria do entretenimento. Os hits manufaturados por ela são as lentes através das quais observamos nossa própria cultura. Definimos nossa era em função dos produtos de massa que obtiveram maior sucesso de venda, é isso que compõe nossa experiência comum.
Porém, desde os anos 90 que as coisas não andam mais tão prósperas. Se observarmos com cuidado veremos que os grandes sucessos já não são tão grandes assim. Na indústria da música, por exemplo, a maioria dos 50 álbuns mais vendidos da história foram gravados nas décadas de 70 e 80, e nenhum deles nos últimos 5 anos. Estatísticas muito parecidas se repetem com o cinema e a TV. O tempo do monopólio da mídias de massa está ficando para trás.
Escassez versus abundância
Nossa cultura dá alguns sinais de independência da indústria do espetáculo desde os anos 90. O que mudou? Em resumo, a quantidade de opções.
Mudanças tecnológicas, sociais e de mercado aumentaram violentamente nossas opções, libertando-nos da escassez de ofertas da cultura de massa para a explosão de abundância e diversidade cultural que vemos emergir hoje. Graças principalmente à internet, não estamos mais restritos ao top 10, nossas opções são virtualmente ilimitadas. Tudo está disponível. É um salto incrível em comparação há 20 anos atrás quando ainda éramos limitados às escolhas de editores e gerentes de distribuição.
Cauda Longa é sinônimo de abundância de escolha. A crescente facilidade dos processos de produção e distribuição trouxe a diversidade e o público tende a distribuir-se de maneira tão dispersa quanto a variedade de escolhas.
Citação de Vin Crosbie: "cada ouvinte, leitor ou espectador é um conjunto exclusivo de interesses genéricos e específicos. A maioria das pessoas compartilham os mesmos interesses genéricos, enquanto os específicos variam muito de pessoa pra pessoa. A lógica da mídia de massa é agradar ao maior número de pessoas ao mesmo tempo, por isso foca sua produção nos interesses genéricos da maioria. Porém, estamos assistindo a uma inversão de tendência desde os anos 1970, começando pelas revistas especializadas, depois pelos canais de TV a cabo com temas específicos e enfim a Internet onde se tem acesso a milhões de sites, a maioria sobre assuntos muito específicos."
O resultado é que cada vez mais pessoas estão indo além da mídia de massa genérica, e passando a consumir também publicações com conteúdo específico. Não foram as pessoas que mudaram, elas sempre tiveram os mesmos interesses genéricos e específicos, o que mudou foi a oferta de informação, antes restrita ao genérico e agora capaz de atender a ambos.
Isso não significa o fim da estrutura de poder que se criou nas últimas décadas em torno da comunicação de massa. Nossa cultura está se tornando uma mistura entre hits e nichos, cabeça e cauda, instituições e indivíduos, profissionais e amadores. A cultura de massa se tornará menos massificada, e a cultura de nicho menos obscura.