História da Europa/Crises da Idade Média
Introdução
A Idade Média foi um período de aproximadamente mil anos de história.
É geralmente considerado como o intervalo de tempo que se estende desde a queda do Império Romano por volta do final do século V, até a reforma protestante no século XVI.
Este período começou com um declínio demográfico no fim da era imperial romana, com populações européias diminuindo e várias cidades e propriedades rurais abandonadas.
Um clima frio, doenças e desordem política desempenharam todos um papel neste período inicial, que viu a civilização mediterrânea clássica ser eclipsada.
Por toda a Europa emergiam sociedades híbridas menores e mais localizadas combinando influências romanas, cristãs e bárbaras germânicas ou célticas.
Na altura dos séculos IX e X, as populações chegaram a um mínimo e a Europa tornou-se uma região grandemente rural e um pouco retrógrada.
O comércio e a cultura floresciam durante o mesmo período no mundo Islâmico, na China e na índia.
Os exércitos islâmicos conquistaram a Espanha durante os séculos VII e VIII, mas foram derrotados pelo reino franco em 732 quando tentaram entrar na França.
A virada do primeiro milênio assistiu a um crescimento renovado e muita atividade. Reis e cidades consolidavam sua autoridade e começavam a recuperar a população de terras abandonadas após o declínio de Roma.
O clima mais quente após os 900 permitiram que a produção de comida fosse maior.
O sistema feudal de agricultura, onde os camponeses ficavam presos à sua propriedade por obrigações com os senhores locais, ou com a igreja, trouxe um certo grau de estabilidade econômica.
As cidades comerciais floresciam na Inglaterra, França e nos países baixos. Governantes alemães enviaram monges e camponeses para abrir florestas e se estabelecerem na Europa oriental e nas regiões bálticas.
As cidades estado, no norte da Itália, floresceram ricas e influentes.
A Espanha islâmica se tornou um centro de sabedoria e cultura, onde cristãos, muçulmanos e judeus coexistiam e relativa amizade.
Apesar das muitas guerras locais e disputas entre cavaleiros, a alta Idade Média, de 1000 a 1250, viu as populações crescerem e prosperarem o bastante para construir imensas catedrais e mandar exércitos para lugares distantes nas cruzadas.
Após 1250 começou uma fase de estagnação populacional. As populações cresciam mais lentamente ou paravam, assim como a agricultura medieval chegava a um limite.
Grandes conflitos entre reinos poderosos, como a Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França, se tornavam mais frequentes.
A igreja católica, antes segura na sua autoridade espiritual, estava partida por cismas e uma crescente corrupção financeira.
O ano de 1348 foi testemunha de uma catástrofe quando a virulenta peste bubônica (chamada de A morte negra) entrou na Itália trazida pelos navios que chegavam da Ásia.
Ela se espalhou pelo continente durante três anos matando, em algumas estimativas, um terço de todos os europeus.
Muitos acreditavam que era o fim do mundo, predito pelos mitos cristãos.
Junto com o sofrimento, a praga espalhou a destruição da economia, encarecendo o trabalho e tornando insustentável o sistema feudal, porque os camponeses sobreviventes desprezavam suas exigências.
O século e meio que se seguiu, transformou a Europa. Ao invés de uma colcha de retalhos de feudos, sob o fraco controle real ou da igreja, passou a ser uma coleção de recentes, mas cada vez mais unificados, estados nacionais.
As cidades se tornaram centros de resistência e dissidência à velha autoridade real ou eclesiástica.
A influência dos nobres e cavaleiros declinavam, e os governantes se realinhavam ao lado das classes, cada vez mais ricas e influentes, dos burgueses e comerciantes.
O aparecimento das máquinas impressoras e a difusão da alfabetização, aumentou os conflitos políticos e religiosos em muitos países.
Em 1500, Cristóvão Colombo atravessou o oceano até o novo mundo, e Martinho Lutero estava praticamente arrancando uma boa parte da Europa da órbita da igreja romana.
Esses acontecimentos iniciaram a era moderna da história, e levaram a Idade Média ao seu verdadeiro final.
Um grande número de instituições modernas têm suas raízes na Idade Média.
O conceito de estado nação com um governo central forte deriva da consolidação do poder praticada por alguns reis da Idade Média. Esses reis formavam cortes reais, designavam pessoas para fazer cumprir as leis, formavam exércitos reais e recebiam os impostos – todos são conceitos básicos do governo moderno.
Um exemplo disso foi o reino da França, governado pela dinastia dos Capetos desde 987 até o início do século XIV.
Durante todo esse tempo, os nobres das províncias francesas e seus castelos e cavaleiros viviam efetivamente sob o controle real o que beneficiava a unidade nacional.
Ao contrário, a Alemanha, que teve reis fortes no século X e inicio do século XI, sofreu uma série de conflitos políticos durante a alta Idade Média, entre governantes e a igreja, que enfraqueceu a coesão nacional e elevou os governantes regionais a uma posição de grande influência.
Durante a Idade Média, os reis originalmente convocavam o parlamento para explicar suas políticas e para levantar dinheiro. O parlamento, nessa época representava o clero, os nobres e os comerciantes.
A ideia de limitar os poderes do governante também surgiu, contrariando a noção tradicional de que os governantes eram todo-poderosos.
A mais famosa ocorrência desse tipo se deu em 1215, quando os nobres da Inglaterra exigiram seus direitos contra o Rei João, na Magna Carta, que ele foi obrigado a assinar.
A formação da burocracia governamental também vem dessa época, na medida em que os Conselhos Reais, dos reis da Idade Média se tornavam modernos departamentos de estado.
Finalmente, o controle dos bens e serviços se tornou muito importante durante a Idade Média, conforme as guildas protegiam o consumidor dos produtos ruins.
Os pensadores da Renascença e do Iluminismo tendiam a olhar a Idade Média com pouco caso, mas foi uma fase essencial para preparar o mundo para os tempos que estavam por vir.
Novos rumos da Arte
Tanto a pintura quanto a literatura receberam um novo sopro de vida a medida que a Alta Idade Média tinha fim.
Pintura
Giotto começou a expressar a forma humana de maneira mais realista. Apesar de suas formas parecerem primitivas se comparadas àquelas de artistas do Renascimento, ele foi o primeiro a tentar trazer de volta o realismo da arte romana. Ele também começou a desenvolver técnicas de perspectiva em pintura para obter profundidade. A maior parte da arte dele era formada de afrescos sobre gesso nas paredes de capelas e igrejas.
Literatura
Como o prestígio do papado começou a declinar, a consciência nacional começou a aumentar; esse nacionalismo era manifestado na literatura escrita nas línguas nacionais, ou vernáculas, ao invés do tradicional latim. Este uso do vernáculo abriu espaço para que particularidades pudessem ser expressas mais naturalmente. Isto permitiu que a literatura parecesse mais realista e humana para os leitores, e é por isso que obras como Os Contos da Cantuária (The Canterbury Tales) são consideradas uma representação da vida no tempo em que foram escritas.
Enquanto a alfabetização crescia entre os leigos graças ao aumento de escritos vernáculos, a sociedade ainda era largamente baseada em uma cultura oral.
Dante Alighieri (1265-1321)
- Por mim se vai das dores à morada,
- Por mim se vai ao padecer eterno,
- Por mim se vai à gente condenada.
- Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!
- -- Canto III, Inferno
Dante Alighieri nasceu em 1265 em Florença, Itália. Sua família não era rica, mas considerada de linhagem aristocrática. Seu mestre foi Brunetto Latini que lhe ensinou as artes liberais clássicas, incluindo o latim e o grego. Apesar disso, Dante preparou-se para abraçar sua língua vernácula e começou a escrever a A divina comédia no dialeto local toscano dele. Hoje ele é tido na história como o primeiro autor a fazê-lo. Alighieri considerava sua obra uma comédia por causa das diferenças entre seu estilo italiano de escrita e as grandes tragédias latinas. Seu poema épico em três partes criticou de modo sarcástico a Igreja e tratou de uma variedade de figuras histórias e contemporâneas. A mais importante destas figuras é a de Virgílio, o poeta latino, que faz o papel de guia de Dante no além-vida. Os sentimentos pessoais de Dante a respeito de várias pessoas também são evidentes em seus escritos. Nos círculos mais profundos do inferno ele pune aqueles por quem tinha maior desdém. Muitos de seus desafetos vieram de sua posição como político em Florença. Uma das vítimas do último círculo do inferno é o papa Bonifácio VIII, um papa à política de expansão do qual ele se opunha. Cada parte do poema retrata graus de salvação com o Inferno, o Purgatório e o Céu. O inferno inclui muitas de suas descrições arquetípicas do inferno incluindo a do rio Estige e do barqueiro Quíron que carrega as pessoas através do rio.
Geoffrey Chaucer (1340-1400)
Os Contos da Cantuária de Chaucer, uma coletânea de histórias, expôs os interesses materialistas e mundanos de uma variedade de ingleses. Esta coletânea de histórias gira em torno de uma cena baseada em uma viagem a Cantuária como uma peregrinação para o santuário de São Thomas Becket. As histórias são os contos individuais de trinta pessoas fazendo esta peregrinação. Os temas vão do romance à família e à religião, proporcionando uma amostra da sociedade do tempo. A maior parte da população e, por conseguinte, das personagens, parece mais ocupada com o prazer material do que com suas almas eternas. Os Contos da Cantuária também são úteis como um estudo do inglês vernáculo da época. É um exemplo clássico de inglês médio que linguistas e aqueles que estudam a Inglaterra medieval e do início da modernidade continuam a usar até os dias de hoje.
A Guerra dos Cem Anos
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi uma guerra bastante complexa, entre a França e a Inglaterra (com a ocasional intervenção de outros países) com três conflitos fundamentais. Em particular, as nações lutaram pelo controle da Gasconha, região francesa, por causa de rebeliões apoiadas pela Bretanha em cidades francesas produtoras de tecidos e pela pretensão inglesa ao trono francês após a morte de Carlos IV.
A guerra, inicialmente disparada por uma disputa sobre quem se tornaria rei da França após a morte do Rei Carlos IV, rapidamente se tornou uma guerra incrivelmente complexa e multifacetada. O rei Eduardo III e seu filho Eduardo, tradicionalmente conhecido como "O Príncipe Negro", invadiram a Aquitânia, uma enorme região no sudoeste da França reivindicada pela Inglaterra. Com o passar do tempo, os reis da Inglaterra e França envolveram-se em muitas operações mais, estendendo-se da guerra civil na Bretanha, disputas comerciais no que se tornou a Bélgica, até uma guerra em Castela. As três maiores batalhas da Guerra dos Cem Anos, Crécy, Poitiers e Azincourt, foram ressoantes vitórias inglesas, derrubando a flor da nobreza francesa a cada batalha. Contudo, ainda que os ingleses tenham vencido todas as maiores batalhas e muitas das menores, a relativamente pobre Inglaterra nunca foi capaz de subjugar o sul da França, de longe a parte mais rica da França, o que levou eventualmente a derrota inglesa na guerra.
Alvorecer das cidades e do comércio
No início do século XI, o feudalismo começa a entrar em ascensão na Europa. Surgem novas técnicas de cultivo, novas formas de uso de animais, principalmente cavalos e grande exploração da mão-de-obra camponesa. Com isso, a comida começa a sobrar e a gerar um grande excedente. Isto levou a um retorno das práticas comerciais, para que os excedentes sejam absorvidos. Houve, assim, o retorno do comércio, praticado inicialmente dentro de cada feudo, para depois começar a se expandir entre outros feudos e outros povos.
Um fator importante para o comércio com outros povos foram as Cruzadas, que aproximaram o Ocidente do Oriente. O caminho feito pelos cruzados tornaram-se rotas diretas para o Oriente, este já com o comércio extremamente desenvolvido. Com isso começaram a surgir feiras de comércio, onde os comerciantes vendiam vários tipos de produto, mas especialmente produtos exóticos vindo do Oriente, tais como cravo, pimenta, canela, tecidos, etc.
Com a expansão das feiras, os comerciantes começaram a instalar-se em cidades, denominadas burgos; daí a denominação dos novos enriquecidos pelo comércio, os burgueses. A expansão dos burgos e a grande oportunidade de enriquecimento rápido pelo comércio levou a uma decadência do sistema feudal, uma vez que os habitantes, que outrora viviam no campo, voltaram-se para as cidades e largaram o campesinato para se tornarem comerciantes.
Crescimento das monarquias nacionais
Durante este mesmo período de tempo, as monarquias começaram a crescer e em conseqüência as pessoas começaram a ver a formação de Estados nacionais unificados. Os reis emitem decretos e começam a instituir cortes reais e a viver do dinheiro das propriedades que possuíam e das taxas de seus vassalos. O conselho real era um grupo de vassalos que o aconselhava em assuntos de Estado que conduziu à formação de departamentos básicos de governo. Quando representantes das cidades começaram a se encontrar, este era o princípio da formação de parlamentos básicos.
Estes parlamentos não tinham a incumbência de legislar, mas poderiam declarar o motivo de suas queixas e o rei poderia agir em cima dele. Este era um tipo básico de legislação.
Além disso, a formação destes parlamentos levou ao estabelecimento dos três Estados: o primeiro Estado que era composto pelo clero; o segundo Estado, composto da classe proprietária e nobre; e o terceiro Estado, ou os burgueses de cidades livres. A Inglaterra teve duas casas do parlamento — a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns. A Câmara dos Comuns permitiu que poucos donos de terra transformassem-se em membros.
A Peste Negra
A Peste Negra, ou peste bubônica, atingiu a Europa a partir de 1347. Transmitida primariamente por moscas e ratos, a bactéria Y. Pestis viajou todo o continente, matando um terço da população até 1351. A origem da bactéria era as estepes asiáticas.
Causas
Respostas à Peste
Conseqüências da Peste
acabou com cerca de um terço da população européia; e as colheitas ficaram totalmente acabadas.
Desafios à autoridade espiritual no fim da Idade Média
A Idade Média forneceu muitos dos alicerces para a Reforma do século XVI. Ao longo do tempo, a Igreja proporcionou ordem, estabilidade e estrutura para o mundo medieval. O alicerce mais essencial da vida medieval era a salvação — e o objetivo final da vida de todas as pessoas era obter a salvação. Como as pessoas perdiam a fé na Igreja e sua habilidade de proporcionar a salvação, a Igreja começou a perder sua influência sobre o povo.
A Peste
Como explicado anteriormente, a peste contribuiu para a perda de fé das pessoas na Igreja. Embora alguns crentes mais fervorosos considerassem tal praga como sendo enviada por Deus para punir o mundo por seus pecados. A Igreja da época teria jogado com tal noção a fim de incentivar uma crença mais fervorosa e de atacar todos os dissidentes.
Pessoas e movimentos heréticos
Alguns movimentos e pessoas desafiaram a autoridade da Igreja durante o fim da Idade Média
Espíritos livres
Os espíritos livres acreditavam que a Igreja não estava satisfazendo as necessidades espirituais das pessoas e defendiam o misticismo ou a crença de que Deus e os seres humanos são da mesma essência.
Os lollardos e John Wycliff
Os lollardos sustentavam que a salvação não precisava vir através do Papa e que o rei era superior a e mais importante que o Papa e a religião. John Wycliff, um padre inglês professor de Oxford, fundou o movimento. Ele afirmou que a leitura da Bíblia e a reza eram importantes para a religião, não a interpretação pelos padres. Ele foi um dos primeiros a pretender traduzir a Bíblia para uma língua vernácula ao invés de usar a Vulgata. Ele também rejeitou a riqueza extrema da Igreja e clero.
Jan Hus (1369-1415) na Boêmia
Jan Hus, formando os hussitas, tentou produzir reformas como aquelas tentadas por Wycliff na Inglaterra. Hua era um padre na Boêmia quando soube dos ensinamentos de Wycliff. Enquanto as pessoas ao redor dele acharam-nos heréticos e os proibiram, Jan achou que tinham o direito de ser ensinados. Após conflitos e desacordos, Hus chegou a conclusão de que a Igreja era corrupta e deixou sua terra natal para escrever Sobre a Igreja uma obra que criticou a maneira pela qual ela era dirigida. Seus ensinamentos atraíram as massas e ele desenvolveu um grupo de seguidores conhecido como hussitas. Em 1413, Hus foi convidado para um conselho nomeado para reformar a Igreja, mas quando ele chegou foi preso por causa de suas opiniões. O julgamento que se seguiu foi, em muitos sentidos, apenas uma formalidade, já que ele era culpado a partir do momento em que entrara. Hus foi queimado na estaca em 6 de julho de 1415. Foi excomungado em 1410 e, condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo em 1415.
Corrupção na Igreja
A enorme corrupção na Igreja igualmente levou muitos a duvidar de sua autoridade e a questioná-la. O excesso de riqueza do clero e a frequência de clérigos tendo amantes e crianças ilegítimas eram preocupações importantes. As pessoas igualmente questionaram a venda de indulgências pela Igreja, ou o recebimento de pagamento para perdoar as pessoas por seus pecados; nepotismo; a simonia, ou a venda de cargos da Igreja; o pluralismo, ou a manutenção de múltiplos cargos da Igreja; e o luxo extremo das catedrais.
O Grande Cisma do Ocidente
Depois de Gregório XI levar o papado de volta para Roma, foram convocadas eleições para um novo Papa. Os cidadãos de Roma, exigindo a eleição de um Papa italiano, forçaram os cardeais a eleger Urbano VI. Os cardeais franceses dissonantes reuniram-se em Avinhão e elegeram sozinhos seu próprio Papa, Clemente VII. Os Papas franceses do Grande Cisma, chamados pelos historiadores de antipapas detiveram poder sobre algumas regiões da Europa e por 39 anos houve dois Papas. Em uma tentativa de reconciliar este Cisma, Conciliares realizaram um conferência em Pisa para eleger um novo Papa, mas não conseguiram depôr os dois empossados, resultando em uma divisão tripla no papado. Não querendo desistir, a convenção pisana elegeu ainda outro Papa, para o mesmo fim.
Finalmente o Concílio de Constança (1414-1418) avançou e exigiu a abdicação dos três papas no poder. Com o apoio do Sacro Imperador Romano, os três papas foram destituídos e Martinho V foi eleito como único papa, terminando o Grande Cisma. O Concílio de Constança agiu igualmente contra John Wycliffe e Jan Hus, dois reformistas dentro da Igreja Católica.